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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Portugues e literatura


Literatura - Introdução, Trovadorismo e Humanismo

INTRODUÇÃO

Periodização da Literatura em Portugal e no Brasil:

A história da literatura portuguesa, tal qual conhecemos hoje, tem início em meados do século XII, quando Portugal se constitui como um estado independente.




Os mais de oito séculos de produção literária portuguesa são divididos em três grandes eras:

• ERA MEDIEVAL
• ERA CLÁSSICA
• ERA ROMÂNTICA OU MODERNA

Em função dos estilos individuais dos artistas (maneira particular de utilizar a língua), do contexto histórico e das tendências de cada período, estas eras literárias foram subdivididas em fases menores, chamadas Estilos de Época ou Escolas Literárias, conforme vemos no quadro abaixo:

PRODUÇÃO LITERÁRIA LUSO-BRASILEIRA: QUADRO CRONOLÓGICO





A história da literatura brasileira, como não podia deixar de ser, está intimamente ligada à história literária de Portugal e também dividi-se em eras histórico-literárias, tendo como marco de separação a independência da colônia:

• ERA COLONIAL
• ERA NACIONAL

Esta delimitação cronológica, recurso puramente didático, não deve ser entendida de forma rígida, como se as Escolas fossem compartimentos estanques presos a certas datas arbitrariamente estabelecidas. Ao contrário, um mesmo autor pode apresentar características de várias escolas, independentemente da época e, as datas representam apenas marcos históricos, isto porque, sempre há um período de transição entre a ascensão de um Estilo e o declínio de outro.

TROVADORISMO



O início das chamadas literaturas de línguas modernas ocorre com a produção dos poetas da Idade Média, conhecidos como trovadores. O termo trovador origina-se detrobadour, que significava “achar”, “encontrar”. Cabia ao poeta “encontrar” a música e adequá-la aos versos. Neste período as composições eram basicamente compostas para serem cantadas ao som de instrumentos como a lira, a cítara, harpa ou viola, daí serem chamadas de cantigas.

Os artistas medievais eram classificados em:

• Trovador – geralmente nobre, possuidor de uma cultura erudita, não recebia por suas composições;
• Jogral – compositor, saltimbanco ou ator que recebia por suas apresentações;
• Segrel – fidalgo decaído que apresentava-se nas cortes, em troca de dinheiro, juntamente com seu jogral. Pode ser considerado um trovador profissional;
• Menestrel – artista que servia a uma determinada corte;
• Jogralesa ou soldadeira – moça que acompanhava os artistas dançando, cantando e tocando castanholas.

O primeiro texto literário português que se tem registro é a “Cantiga da Guarvaia” ou “Cantiga da Ribeirinha” (1189 ou 1198), cantiga de amor de autoria de Paio Soares de Taveirós.

I - CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

O séculos XI e XII são marcados pelo feudalismo, no plano político-econômico e pelo espírito teocêntrico (deus como o centro de todas as coisas), no plano religioso. A sociedade medieval, composta basicamente pelo clero, nobreza e camponeses, estava estruturada numa relação de suserania e vassalagem, através da qual os vassalos (povo) serviam e obedeciam ao suserano (senhor feudal) em troca de proteção e assistência econômica. Tal estrutura era mantida graças ao teocentrismo, que difundia a idéia de destino, fazendo com que o povo aceitasse sua posição subalterna sem contestação, uma vez que esta era ordem divina.

Este dois traços histórico-culturais irão influenciar toda a produção literária trovadoresca, não só na poesia mas também na prosa.

II- PRODUÇÃO LITERÁRIA

2.1 – CANTIGAS
O que conhecemos da poesia trovadoresca, anterior ao aparecimento da escrita, está contido em obras conhecidas como cancioneiros, manuscritos antigos encontrados a partir do final do século XVIII. Os três mais importantes são:

• Cancioneiro da Ajuda ou do Real Colégio dos Nobres – reúne 310 composições, das quais 304 são cantigas de amor , foi organizado por D. Dinis e é o mais antigo de todos. Encontra-se na Biblioteca da Ajuda, em Portugal.
• Cancioneiro da Vaticana – reúne 1205 poesias, de autoria de 163 trovadores. Conserva-se ainda hoje na Biblioteca do Vaticano, em Roma.
• Cancioneiro da Biblioteca Nacional – também conhecido por Cancioneiro de Colocci-Brancuti, em homenagem a um de seus antigos possuidores. É o mais completo de todos, contendo 1647 cantigas de todos os gêneros. Encontra-se na Biblioteca Nacional de Lisboa, em Portugal.

Há ainda, segundo alguns estudiosos, as Cantigas de Santa Maria, um cancioneiro de poesias religiosas composto por 426 produções acompanhadas das respectivas músicas.

Toda esta produção poética dividi-se em:



Nas Cantigas de Amor, de origem provençal (Provença região sul da França), o trovador, posicionando-se num plano inferior – como um vassalo, canta o sofrimento pelo amor não correspondido e as qualidades de uma mulher idealizada e inatingível, a quem chama de

“minha senhor”.
“Senhor fremosa, pois me non queredes
creer a coita en que me tem amor,
por meu mal é que tan bem parecedes
por meu mal vos filhei por senhor
e por meu mal tan muito bem oí
dizer de vós, por meu mal vos vi
pois meu mal é quanto bem vós havedes.”
                                                                                                                  (Martim Soares, século XIII)

Originárias da Península Ibérica, as Cantigas de Amigo apresentam um eu-lírico feminino, embora fossem produzidas por homens. Nelas a mulher canta a ausência do “amigo”que está afastado, geralmente a serviço do rei ou em guerras. Ao contrário das primeiras, que refletiam a corte, as Cantigas de Amigo descrevem um ambiente pastoril, a moça ao cantar seus sentimentos dialoga com a mãe, a amiga e elementos da natureza.

“Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
e ai deus, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
e ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
e ai Deus, se verrá cedo!...”
                                                                                                       ( Martim Codax, século XIII)

Produzidas com o objetivo de satirizar as pessoas e os costumes da época, as Cantigas de Escárnio continham uma sátira indireta, marcada por ambigüidades e sutilezas, dificultando a identificação da pessoa atacada.

Ua dona, nom digu’eu qual,
non agoirou ogano mal
polas oitavas de Natal:
ia por as missa oir
e ouv’un corvo carnaçal,
e non quis da casa sair...”
                                                                       (Joan Airas de santiago, século XIII)

Já as Cantigas de Maldizer continham ataques diretos, sem a preocupação de ocultar a identidade da pessoa satirizada, apresentando muitas vezes expressões de baixo nível e obscenidades.

“Ai, don fea! Fostes-vos queixar
porque vos nunca louv’en meu trobar;
mais ora quero fazer un cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandía...”
                                                                       (Joan Garcia de Guilhade, século XIII)

Quadros comparativos entre as cantigas:





2.2 – PROSA
A prosa medieval, posterior à poesia, é representada basicamente pelas novelas de cavalaria, narrativas de cunho cavaleiresco e religioso que contavam as aventuras de grandes reis e seus cavaleiros. Destacam-se entre elas a História de MerlimJosé de Arimatéia e a Demanda do Santo Graal. Havia também outros textos em prosa, assim divididos:

• Hagiografias – biografia de santos
• Livros de Linhagens ou Nobiliários – relatos genealógicos de famílias nobres
• Cronicões – livros de crônicas

Costuma-se afirmar, didaticamente, que o Trovadorismo termina com a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor da Torre do Tombo, em 1418, marcando o início do Humanismo.


Humanismo

É interessante ressaltarmos que o termo Humanismo é polissêmico, podendo ser considerado sob vários enfoques, ao mesmo tempo distintos e interdependentes. Para os limites desta aula, interessa nos o seu sentido mais estrito ou histórico, entendido enquanto o movimento literário e cultural de uma época marcada por profundas transformações na sociedade européia.

Humanismo, segunda Escola Literária Medieval, também conhecido como Pré-Renascimento ou Quatrocentismo, corresponde ao período de transição da Idade Média para a Idade Clássica. Tem como marcos iniciais as nomeações de Fernão Lopes como Guarda-Mor da Torre do Tombo (local onde se guardavam os documentos oficiais), em 1418 e, como Cronista-Mor do Reino, em 1434, quando recebeu de D. Duarte, rei de Portugal, a incumbência de escrever a história dos reis que o precederam.

Historicamente o Humanismo foi um movimento intelectual italiano do final do século XIII que irradiou-se para quase toda a Europa, isto porque, após a queda de Constantinopla em 1453, muitos intelectuais gregos (professores, religiosos e artistas) refugiaram-se na Itália e começaram a difundir uma nova visão de mundo, maisantropocêntrica, indo de encontro à visão teocêntrica medieval. Entre as principais idéias humanistas estavam:

• retomada da cultura antiga, através do estudo e imitação dos poetas e filósofos greco-latinos;
• revalorização da filosofia de Platão, especialmente no que diz respeito à distinção entre o amor espiritual e o carnal - neoplatonismo;
• crítica à hierarquia medieval, o homem reivindicando para si uma posição de destaque no Universo - não aceitação passiva das imposições místicas difundidas na idéia de destino;
• bifrontismo, coexistência de características medievais (feudalismo, teocentirsmo) e renascentistas (mercantilismo, antropocentrismo, pragmatismo burguês).

I - CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

No final da Idade Média, Portugal estava passando por profundas transformações. O desenvolvimento de outras atividades econômicas estimulou a crise do sistema feudal e deu início ao chamado mercantilismo – a economia de subsistência é substituída gradativamente por atividades comerciais. Surgem as pequenas cidades, chamadasburgos, e com elas uma nova classe social, a burguesia. Muitas descobertas são feitas, entre elas a invenção da imprensa (em 1448, por Gutenberg) e de instrumentos relacionados à expansão ultramarina. Mas é, sem dúvida, a Revolução de Avis (1383-1385) o marco cronológico da consolidação do Estado Nacional Português.
Através dela se estabelece a política centralizadora do poder nas mãos do rei, respaldada pela burguesia mercantilista. A partir da primeira conquista ultramarina portuguesa, a Tomada de Ceuta, em 1415, inicia-se o período das Grandes Navegações, que consolidam o nacionalismo português.

II- PRODUÇÃO LITERÁRIA

A produção literária desse período subdivide-se em:




Poesia Palaciana, como próprio nome já diz, era poesia produzida no ambiente dos palácios, feita por nobres e destinada à corte. Ao contrário dos códices (manuscritos) trovadorescos, grande parte da produção poética desse período foi recolhida por Garcia Resende, no Cancioneiro Geral, formado por 880 composições, impresso em 1516. Entre suas principais características estão:

separação entre música e texto – a poesia destina-se à leitura. Assim, a própria linguagem é responsável pelo ritmo e expressividade. O termo trovador aos poucos assume um caráter pejorativo e começa a surgir a figura do poeta;

utilização dos redondilhos – versos compostos por cinco (redondilhos menores) ou sete sílabas poéticas (redondilhos maiores);

temática variada – com composições religiosas, satíricas, didáticas, heróicas e líricas. O lirismo amoroso trovadoresco, a partir da influência de Petrarca (um dos precursores do Humanismo italiano), assume uma nova conotação, a mulher idealizada, inatingível, carnaliza-se e a sensualidade reprimida nas cantigas de amor passa a ser freqüente.

Fernão Lopes é a principal figura da prosa humanista, considerado o fundador da historiografia portuguesa. Sua importância se deve não só pelo aspecto histórico de sua produção, mas também pelo aspecto artístico de suas crônicas. Em sua crônicas, apesar de regiocêntricas, o povo aparece pela primeira vez com co-autor das mudanças históricas portuguesa. Entre suas características destacam-se: a imparcialidade, o registro documental, a criticidade e o nacionalismo. São de autoria de Fernão Lopes:

Crônica de El-Rei D. Pedro I

Crônica de El-Rei D. Fernando

Crônica de El-Rei D. João I

prosa doutrinária, também chamada de ensinanças, corresponde a textos de caráter didático, destinados à nobreza. São obras para o aprendizado de certas artes da época, como a montaria.
As novelas de cavalaria conservam basicamente as mesmas características do Trovadorismo.

O Teatro de Gil Vicente

Antes da produção gilvicentina é praticamente impossível falar-se em teatro. A manifestação teatral da Idade Média limitou-se à encenações de caráter litúrgico, presas aos ritos da religião católica. As encenações religiosas apresentadas no interior das igrejas dividiam-se
em:

mistério – representação da vida de Jesus Cristo

milagre – representação da vida de santos

moralidade – representações curtas com finalidade didática ou moralizante.

As encenações que ocorriam fora dos templos religiosos recebiam o nome de profanas e apresentavam um caráter mais popular e não estavam relacionadas aos cultos católicos. Dividiam-se em:

arremedilho ou arremedo – imitação cômica de acontecimentos ou pessoas;
pantomima alegórica – espécie de palhaçada circense da atualidade, na qual atores mascarados imitavam as pessoas.
farsa – encenação satírica com um humor primário, situações absurdas e ridículas;
sotie – (sotie vem do francês sot e significa tolo) semelhante à farsa, mas com um parvo,tolo no papel principal;
momo – encenação carnavalesca com uma temática variada. As pessoas utilizavam máscaras e imitavam pessoas e animais;
entremeze – encenações breves apresentadas entre os atos de peças mais longas. Sua função era preencher os intervalos;
sermão burlesco – monólogo recitado por um ator mascarado;
écloga – auto pastoril. Atores vestidos de pastores pregavam os valores da vida no campo.

Pouco se sabe sobre os dados biográficos de Gil Vicente. Acredita-se que tenha tido muito prestígio na corte portuguesa, desempenhando a função de organizador das grandes festas palacianas. Para outros, entretanto, desempenhava a função de ourives, atraindo a atenção da rainha Leonor. Mas é unanime o seu reconhecimento como o fundador do teatro português e o maior representante do Humanismo.

Assim como o período, suas peças apresentavam o bifrontismo como característica central. Ora com fortes marcas medievais, ora com antecipações renascentistas.

Gil Vicente criticou toda a sociedade da época, suas peças apresentam indivíduos de todas os segmentos sociais. Só não criticou mordazmente a Família Real, da qual dependia. É importante destacar que todo o moralismo gilvicentino não é contra as instituições, mas contra os indivíduos que as corrompiam. Tanto que em nenhum de seus trabalhos questionou qualquer verdade cristã, apresentava uma visãoteocêntrica e conservadora da sociedade. Na realidade, era contra as novidades trazidas pelas mudanças do período que punham em risco a integridade do povo português, seus autos representam uma tentativa de resgate dessa integridade que perdia-se través da corrupção, do adultério e da ambição.

Por outro lado, Gil Vicente inovou, mesmo escrevendo em redondilhos, não seguiu a rigidez do teatro clássico vigente até então (unidade de ação, tempo e espaço). Suas representações apresentavam uma grande variedade temática, povoadas por inúmeros personagens, amplitude temporal e justaposição de lugares. A alegoria, as
personagens-tipos e a variedade lingüística também o distinguem de seu tempo. Suas personagens não apresentam características particularizadas, ao contrário, são generalizações, estereótipos, que representam toda categoria profissional ou uma classe social (povoam suas peças as alcoviteiras, os fidalgos, os frades, os judeus). Outras vezes, através da abstração, as personagens representam idéias ou instituições (a Fama, a Igreja, a Lusitânia, Todo-o-Mundo e Ninguém). As personagens gilvicentinas expressavam-se através de diversos registros lingüísticos: arcaísmos, castelhano, saiaguês (falar típico de Saiago, região que faz fronteira com Portugal), latim, português chulo, coloquial, popular, culto e erudito.

A produção teatral de Gil Vicente divide-se em três fases:

Primeira Fase – marcada pelos traços medievais e pela influência espanhola de Juan del Encina. São desta fase: O Monólogo do Vaqueiro, o Auto Pastoril Castelhano, o Auto dos Reis Magos, entre outros.

Segunda Fase – aparecem a sátira dos costumes e a forte crítica social. São desta fase:Quem tem farelos?, O Velho da Horta, o Auto da Índia e a Exortação da Guerra.

Terceira Fase – aprofundamento da crítica social através da tragicomédia alegórica, da variedade temática e lingüística, é o período da maturidade expressiva. São desta fase: A Trilogia das Barcas, a Farsa de Inês Pereira, o Auto da Lusitânia.

A Farsa de Inês Pereira

Conta a história que a Farsa de Inês Pereira surgiu por volta de 1523, quando a autoria dos textos de Gil Vicente foi questionada. Ele, a fim de provar sua inocência, pediu que lhe dessem um tema qualquer para que produzisse uma peça. O tema dado foi um dito popular: “mais quero um asno que me leve que cavalo que me derrube”, expressão conhecidíssima da célebre farsa.

Inês Pereira, jovem ambiciosa e namoradeira, cansada dos afazeres domésticos decide se casar, mas não com qualquer rapaz de sua classe social, deseja um casamento nobre, com um homem que seja galante, discreto e que saiba cantar. Recusa o casamento com Pêro
Marques, que mesmo rico era camponês e casa-se com Brás da Mata, falso escudeiro que a maltrata após o casamento.

Com a morte do marido, a jovem casa-se novamente com o primeiro pretendente, mesmo sem amá-lo. Ingênuo e devotado, Pêro Marques não percebe a traição da mulher com um falso religioso e, na cena final da farsa, leva a própria esposa para os braços do amante, daí a frase: “mais quero um asno que me leve que cavalo que me derrube”.

 Bons estudos!!

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